Olá, Daiany aqui!
Quero começar o nosso papo de hoje com algumas questões: você estuda teoria musical? Como você encara suas aulas: gosta ou acha um “saco”? Utiliza o que aprende na prática musical?
Estou te fazendo essas perguntas porque hoje nós vamos conversar sobre como estudar teoria sem apelar para decoreba, aprender de verdade, porque só decorar te ajuda nas provas, a passar de ano, mas não te ajuda a tocar melhor.
Primeiro, pensa: de que adianta aprender conceitos musicais? Para que serve a teoria? É como estudar uma infinidade de regras gramaticais da língua portuguesa. Você vai para a escola e estuda uma série de regras de gramática. Mas, para que estudar isso? Pra você saber se expressar melhor, saber escrever um texto, saber se posicionar, falar e escrever de maneira adequada, para você ser ouvido… Não é apenas aprender por aprender. É para usar, e até mesmo para expressar sua criatividade, para você achar o seu lugar no mundo e contribuir para a sociedade de alguma maneira.
Com a música funciona exatamente igual. A teoria vem para alicerçar nossa forma de expressão musical, nossa interpretação e nossa técnica nos ajudam a atingir níveis diferenciados na música. Mas o detalhe mais importante é que não devemos parar na dimensão conceitual de teoria. E é isso que acontece na maioria das vezes. A gente simplesmente aprende a teoria, nosso cérebro aprende, a gente entende e acabou. E é aí que está o problema.
Nós precisamos sempre aprender a pensar na aplicabilidade – na forma prática de cada conceito que aprendemos na música. Veja um exemplo: TOM e SEMITOM. Essas expressões indicam a distância entre as notas, eles medem a distância do som. São unidades de medida da música, ou seja, de medir algo abstrato. O semitom é a menor distância que nós temos entre dois sons (pensando no sistema ocidental – temperado).
Se você estuda ou já estudou música, provavelmente você já aprendeu este conceito. Mas agora vem a questão: conhecer isso te ajuda em que, na prática musical? Não é apenas entender a lógica e o porquê dos conceitos musicais que te ajudam a tocar melhor. Você tem que aprender a colocá-los em ação, vivenciá-los.
Mas veja o problema, o que nos é ensinado é que por exemplo, entre Dó e Ré temos um tom, e isso acontece entre Ré e Mi novamente. Só teremos um semitom natural entre Mi e Fá e depois entre Si e Dó, o restante é tudo distância de um tom. Mas é preciso também saber que, se temos uma distância de um tom entre Dó e Ré por exemplo, neste mesmo intervalo também temos dois semitons (porque um tom é a soma de dois semitons). Então todas as notas classificadas com a distância de um tom, há também dois semitons entre elas – ou seja, há outras notas entre elas. É por isso que existem 12 notas em nossos instrumentos e não apenas sete. Aliás, o som destas notas e das distâncias entre elas deve estar em seu ouvido, como uma memória auditiva do conceito. Entende?
Se você entende bem o conceito de tom e semitom, você percebe que na prática você está em contato com tons e semitons o tempo todo e eles são representados pelos sustenidos, pelos bemóis, dobrado sustenido, dobrado bemol, notas enarmônicas…
Quando você visualiza todos os 12 sons, próprios da escala cromática no seu instrumento, você ganha muito mais intimidade com o instrumento que está a tocar, desenvolvendo mapeamento e memória tátil nele: você sabe a distância que sua mão tem que percorrer para alcançar as notas desejadas. E tudo isso porque você vivenciou a teoria do tom e semitom.
Se algo neste conceito não ficar tão claro para você, te convido a assistir uma videoaula onde expliquei isso usando minha lousa, meu piano e cantando as notas, dessa maneira, fica mais fácil de visualizar e entender. É essa aula aqui:
Medir a distância dos sons é algo que pode sim ser exercitado no papel. É verdade! Assim você aprende os conceitos, mas… não deve parar por aí. Outro aspecto que te ajuda a tocar melhor depois de entender e vivenciar o conceito de tom e semitom, é criar as referências de um tom e um semitom dentro de você, ao cantar essas notas. Isso vai te ajudar a praticar a transposição (lida ou escrita) e adaptar o tom de uma música que você queira depois tocar ou cantar. Te ajuda a entender os acordes que você toca, porque você entende sobre os intervalos que o formam. Te ajuda a desenvolver o ouvido melódico – ao solfejar estas distâncias, na escala, e por isso você vai cantar e tocar mais afinado, além de ser capaz de ajudar outros músicos a perceberam que estão desafinando (e você mesmo perceberá isso em você). Vai conseguir tirar música de ouvido com mais facilidade e será capaz de criar arranjos vocais ou instrumentais – tudo isso por entender e internalizar os sons intervalares na música.
Percebe a importância de estudar dessa maneira, bem mais ampla? Viu quanto conhecimento e habilidades você consegue desenvolver? Mas não é esse tipo de estudo que a maioria das pessoas fazem. Elas simplesmente praticam exercícios conceituais – de medir as distâncias entre as notas no seu caderno, por exemplo. Elas não desenvolvem a sua percepção auditiva, e por isso, a teoria se desconecta da prática.
Então, resumindo: pare de estudar teoria separado da prática. As duas dimensões devem andar juntas – sua prática no instrumento, e cada conceito teórico. Seja curioso(a) e queira sempre saber onde aquilo se aplica. E busque enxergar cada “coisa” no seu dia-a-dia musical, é assim que você muda o padrão da “decoreba” (apenas útil para o momento das provas e nada mais) e avança na música de verdade, com confiança, e se reconhecerá fazendo música com domínio e propriedade.
Por hoje é só! Espero que você entenda que deve conectar a teoria com a prática e que você se aproprie dessa maneira de estudar música. Muita música para você!