Olá, tudo bem com você? Daiany por aqui!
Hoje vou responder essa dúvida que assombra muita gente: o que é “tom” ou “tonalidade”. Aliás, por um acaso você sabe que não são a mesma coisa? Pois é. Muita gente usa um termo como sinônimo do outro, mas eles não são. Depois desse texto você entenderá melhor este tema e verá como isso pode te ajudar muito na música, inclusive a tirar música de ouvido (que é o sonho de muita gente). Bom, vamos lá!
Veja, quando falamos sobre tom precisamos entender que ele se refere à altura em que uma tonalidade se expressa. O que eu quero dizer com isso? Que o tom é um conceito mais simples do que o conceito da tonalidade. O tom é apenas a altura. Mais ou menos assim: dizer que uma música está no tom de Dó Maior, é dizer que a altura dela é de dó (e lembre-se que a altura é uma propriedade do som que expressa a relação de grave ou agudo, entende?). Esse tom poderia ser alterado para um tom mais agudo ou mais grave, e assim estaríamos fazendo a transposição do tom – a música ficaria numa altura diferente, mais grave ou mais aguda, a depender da mudança que fizemos, mas a música em si não perde suas características principais, ainda é a mesma música, mas em outro tom (outra altura).
Agora, a tonalidade envolve um conceito maior. Ela é a base, a fundamentação, o chão que dá alicerce para a ideia musical. Quando o compositor vai compor, ele pode se basear no sistema de tonalidade, e houve uma época em que o compositor estava meio que amarrado no sistema tonal, se ele quisesse compor. A tonalidade era o centro da composição musical. Então, a grande massa de músicas do repertório que tocamos (do século XVII ao XIX – que são os “grandes clássicos”), é tonal.
Hoje em dia, se analisarmos as composições atuais, uma boa parte delas ainda é tonal, e a outra parte é composta por outros recursos. Mas mesmo assim o sistema tonal ainda está vigente, não como centralidade total, mas ele ainda é usado.
Quando você pensa no sistema tonal, ele é o que dá a lógica da organização do compositor. O sistema tonal é aquele onde há uma centralização. As notas de uma melodia, os acordes de uma música, são movimentos harmônicos que obedecem uma lógica de densidade, de movimentação que busca sempre chegar num repouso. Por isso o sistema tonal é muito previsível. Ele tem um centro tonal que é representado por uma tônica onde todas as outras notas caminham e caminham até chegar novamente nela. Os acordes vão se sucedendo e fazem um movimento de tensão, criar uma expectativa, que se resolve nesse acorde da tônica. Estamos muito acostumados a ouvir isso nas músicas, e às vezes nem percebemos este fato de que a sonoridade se organiza sempre para tensionar e voltar para o repouso. Essa é a maior característica do sistema tonal. Quando a música não é tonal, isso não acontece, digo, não há a previsibilidade do centro tonal, do movimento dos acordes.
Mas como treinar nosso ouvido para identificar em que tom está uma música?
A primeira coisa que você precisa saber, é que a tonalidade se baseia em uma escala, seja ela do modo maior ou menor. E a escala é uma sequência de 7 notas que segue um padrão intervalar específico. As escalas maiores têm um padrão e as escalas menores tem outro, e a forma com que os tons e semitons se distribuem na escala é chamado de modo. Então há o modo maior e o modo menor. O nosso sistema tonal, centralizou-se apenas nesses dois modos, o que levou às tonalidades também serem maiores ou menores. Acontece que o padrão intervalar de cada uma delas traz uma característica sonora específica que fica perceptível na música, o que nos possibilita reconhecê-la de ouvido: o modo maior faz com que as músicas em tonalidade maior tenha uma sonoridade mais alegre, mais aberta, mais viva, enquanto a tonalidade menor traz uma sonoridade mais melancólica para a melodia. Claro que estes adjetivos não podem ser tomados ao pé da letra, de forma generalizada, e sim considerados como algo um tanto quanto “pessoal”. O fato é que cada tipo de tonalidade tem uma sonoridade diferente e específica.
Se você quer ser capaz de reconhecer a tonalidade de uma música, de ouvido, você precisa conhecer os padrões destas escalas, seus acidentes, conhecer os acordes destas escalas (campo harmônico), conhecer as funções e as principais cadências harmônicas. Isso tudo traz uma densidade sonora para a música, até porque uma música não é feita apenas de melodia (se for, fica um tanto incompleta); precisa de toda uma parte harmônica, de acordes também.
Então são três pontos essenciais: se você não entende a escala, se não entende sobre a formação de acordes, e não compreende as funções tonais, você não entende a tonalidade plenamente. Pode até ser que você tenha desenvolvido intuitivamente o seu ouvido tonal pelo hábito de tocar de ouvido. Mas se você teve um ensino formal, igual eu tive, onde desde bem cedo nos é colocado para tocar lendo uma partitura e nosso ouvido não é treinado, você apenas toca… toca… toca e, nunca pensa em tonalidade. Apenas está lendo a música. Mas você pode e deve mudar isso!
Eu fiz uma aula onde falei mais sobre isso e te expliquei o que significa aquela história de “pega este tom aqui”. Vou deixar aqui o link para você e espero que você goste!
Até aqui você está percebendo a importância de estudar conceitos teóricos e harmônicos para nutrir sua habilidade musical e te dar condições de desenvolver o ouvido que percebe a tonalidade. Não adianta estudar isso apenas no papel, tem que ouvir, e se acostumar com isso. Talvez você esteja aí agora pensando: “mas por que eu preciso de fato ouvir e entender qual é o tom de uma música? Não basta estar tocando corretamente?”
Saiba que perceber o tom te ajuda a tirar músicas de ouvido. E mesmo que você não queira tirar músicas de ouvido, se você não reconhece o tom de uma música você fica um tanto limitado na sua capacidade interpretativa. Reconhecer o tom de uma música te ajuda a interpretá-la melhor, isso porque o conhecimento sobre tonalidade nos ajuda a reconhecer a intenção do compositor, e assim, passamos a nos apropriar dessa música, como se fosse nossa, criamos mais intimidade com ela ao conhecer as cadências, as funções e a densidade dos acordes e sem dúvidas, depois disso, interpretamos muito melhor! Nosso som muda, simples assim. Além disso, o seu conhecimento sobre tonalidade te ajuda a improvisar. Se você não tem este conhecimento você não ouve a base harmônica que é preciso para conseguir improvisar bem. Ou seja, quando você entende de tonalidade, você alcança outros níveis musicais.
Eu também fiz uma videoaula falando exatamente sobre este assunto, para demonstrar para você sobre como a tonalidade influencia a interpretação. Eu coloquei a mão na massa e toquei uma música chamada Lua Branca (de Chiquinha Gonzaga). Se você quiser entender melhor, pode clicar nesse link que já será redirecionado para a aula e poderá assistir ao exemplo dado.
Então, é isso. Por hoje é só, até a próxima e muita música para você!